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O que nos torna singulares

  • 01/12/2014 19h36
  • Joseti Marques
  • Joseti Marques

Em 2012, quando da entrada dos primeiros empregados concursados na EBC, fui convidada a fazer uma palestra para o Projeto de Ambientação, com a incumbência de apresentar a Ouvidoria aos recém-chegados. Eu também havia chegado há pouco tempo, em meados de 2011, na função de ouvidora adjunta para a TV Brasil. Aliás, éramos todos recém-chegados, a começar pela própria EBC, que mal completara seu quarto ano de existência no cenário da radiodifusão, tendo surgido qual criança que nasce de parto difícil e demorado, exibindo uma marca que a torna para sempre singular entre as demais – é pública. Uma empresa de radiodifusão nascida pública em um país que por mais de meio século aprendeu a ver a si mesmo, a realidade e o mundo pelas antenas da televisão privada.

As experiências profissionais eventualmente acumuladas naquele auditório teriam que ser depuradas para que o novo pudesse surgir em sua singularidade e plenitude, fazendo jus a mais uma conquista de cidadania que se inaugurava com a EBC – o direito à diversidade das fontes de informação e à multiplicidade de conteúdos audiovisuais para a sociedade brasileira. Perguntei àquela plateia, jovem em sua ampla maioria, se havia ali alguém que alguma vez já teria recorrido a uma Ouvidoria. Os depoimentos foram muitos: cursos de inglês, bancos, INSS... Exemplos que apontavam claramente para duas direções: a da confiança no atendimento de Ouvidoria, e a certeza de que Ouvidorias existem para fazer valer o direito do cidadão em relação à qualidade de serviços e produtos, tanto em empresas públicas quanto privadas. Perguntei então se achavam importante ter uma Ouvidoria de TV, serviço gratuito sujeito à lei implacável do controle remoto. Não houve respostas, mas os olhares questionadores eram um sinal bastante promissor.

Assistir TV é certamente parte do processo de acumulação de conhecimentos, principalmente no que tange aos telejornais, que selecionam e organizam os fatos da realidade, formando parte importante da experiência da sociedade e da pessoa. Uma pesquisa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, divulgada em março deste ano, revelou que 97% da população brasileira tem o hábito de se informar pela televisão. Toda atividade humana está sujeita ao hábito, e a experiência tanto biográfica quanto histórica é passível de um processo de acumulação. O acervo social do conhecimento acumulado e compartilhado por essa e outras fontes se transmite de uma geração a outra. Contei então uma história vivenciada – e divulgada – pelo professor Laurindo Leal Filho, Lalo, primeiro Ouvidor da EBC e apresentador do programa Ver TV, na TV Brasil. Em uma visita com seus alunos à redação do Jornal Nacional, da TV Globo, ele conta que ouviu do editor-chefe que ele editava o telejornal considerando um público médio semelhante ao personagem de desenho animado para adultos, Homer Simpson, um engraçado beberrão de personalidade idiotizada, sem princípios, oportunista. Muitos artigos foram produzidos a partir dessa desastrosa declaração do editor-chefe do telejornal que há décadas é detentor da maior audiência no país, não cabendo mais comentários. Mas, naquele momento, percebi que ficou evidente para os recém-chegados servidores da EBC a importância de cada um deles no processo e a relevância de uma Ouvidoria Pública em uma empresa cuja missão é contribuir para a formação da consciência crítica do cidadão.

Este texto foi publicado na Revista do Conselho Curador da EBC - edição nº 3 - julho 2014

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