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- 07/10/2014 15h20
- Joseti Marques
- Joseti Marques
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O verbo “seguir” vem sendo usado erradamente com o sentido de “continuar” nos textos da imprensa e já contaminou boa parte da mídia, inclusive a pública. O hábito tornou-se o que se costuma chamar de vício de linguagem, como o malfalado “gerundismo”, por exemplo.
A adesão a um e desqualificação do outro talvez se deva às profissões que lhes deram origem. O gerundismo, segundo algumas fontes, pode ter-se infiltrado na língua portuguesa a propósito do crescimento do mercado de call center, cujos manuais eram traduzidos quase que literalmente, adotando o futuro contínuo da língua inglesa sem atenção para a semântica e a sintaxe originais.
Já o emprego errado do verbo “seguir” talvez esteja se consolidando na mídia porque é utilizado por uma categoria de profissionais que deveriam zelar pelo uso correto da língua. Afinal, esse é um dos compromissos do jornalismo, conforme indicado no Art. 12, VIII do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que diz que dentre as responsabilidades profissionais do jornalista está a de “preservar a língua e a cultura do Brasil, respeitando a diversidade e as identidades culturais”.
O verbo “seguir” emprega-se corretamente em situações como “ir atrás”, “vir depois”, “seguir em frente” etc. No sentido de dar seguimento, “seguir” é permutável com “continuar”, mas não em situações que se referem a algo que permanece “parado”, “interrompido”, ou “interditado” - seguir não é um verbo de ligação, indicador de manutenção de estado anterior, como empregado no título da matéria da Agência Brasil. Além do que, soa estranho, porque o predicativo entra em flagrante contraste semântico com o sentido de “seguir”.
A Ouvidoria sugere maior atenção com o uso correto da língua e a elaboração de um manual de estilo como tem a BBC, onde se lê que “o público espera que a BBC demonstre o mais alto padrão de uso da língua inglesa, porque histórias bem escritas são mais fáceis de entender”.
Nas emissoras públicas de rádio e TV - assim como na mídia privada - outro vício de linguagem vem ganhando destaque: uma desagradável cacofonia que diz que tudo que é difícil “não é uma tarefa fácil”.
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