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EBC apresenta mudanças na Agência Brasil e Portal ao Conselho Curador

  • 22/04/2015 14h11

Durante a 55ª Reunião Ordinária do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ocorrida no último dia 15/04, a Diretoria da empresa informou ao colegiado que a Agência Brasil e o Portal EBC passarão por mudanças em suas estruturas e modelos de produção. “Em geral, os dois veículos duplicam muito os conteúdos e fazemos uma distribuição complicada. Estamos propondo a criação de um núcleo de produção factual, com a fusão dos dois veículos. Encontrei esse modelo em uma casa que me é muito cara e às empresas públicas de forma geral, a BBC”, explicou Américo Martins, diretor-geral da EBC.

 

A nova estrutura, que se chamará Superintendência de Agências e Novas Mídias, substituirá a superintendência do Norte e Centro-Oeste, e ficará ligada diretamente à Diretoria-Geral, apesar de continuar seguindo as linhas editoriais determinadas pela Diretoria de Jornalismo. O projeto terá a duração de três anos, quando será revisto o modelo. “Hoje, não temos mecanismos de distribuição e, ao forçar que a mídia venha a nós, isso estimula a interpretação de que somos oficiais, governamentais. Minha intenção é que venhamos competir com as grandes agências internacionais de notícia. Vamos atuar mais como agência, mas com a equipe do Portal ajudando nisso – a gente ganha em agilidade, produção multimídia e eficiência. Não vamos mais ter vários repórteres cobrindo a mesma história, sem ter uma coordenação centralizada”, afirmou Américo.

 

Além disso, serão criadas oito vagas na nova Superintendência para correspondentes em diferentes cidades do Brasil, que serão preenchidas por profissionais do quadro, via Processo Seletivo Interno. Os correspondentes trabalharão a partir da estrutura das emissoras parceiras nos estados e terão contratos de um ano, renováveis por mais um ano. Para gerir a sucursal de Tabatinga será designado um responsável, também da Diretoria-Geral.

 

“De maneira geral, os trabalhadores têm um olhar positivo em relação a esse desejo de ter relevância e o direito de sonhar com uma EBC mais pública, mas quero reiterar que sobram muitas dúvidas”, disse Eliane Gonçalves, conselheira representante dos funcionários da casa. Ela pediu explicações sobre o futuro da Radioagência Nacional e sobre a linha editorial jornalística, além de pontuar que o novo concurso da empresa deve ser planejado a partir deste novo formato. “É primordial pensar o multimídia de forma a não sobrecarregar os funcionários e garantir que tenham representantes dos trabalhadores na reformulação das áreas”, defendeu.

 

Rosane Bertotti, conselheira, reforçou que é importante garantir uma comunicação multimídia, que responda às necessidades de diversidade da comunicação pública, mas sem desrespeitar os direitos trabalhistas. “Outra coisa é priorizar a comunicação colaborativa com movimentos sociais. É muito importante você pensar essa estratégia nova a partir dessa visão”, pediu.

 

Rita Freire, vice-presidenta do Conselho, ressaltou que a identidade da Agência Brasil não pode se perder com a fusão das equipes. “Eu quero saber qual é o projeto da Agência Brasil. Mesmo com o Manual de Jornalismo e o Plano Editorial da Agência, nosso jornalismo ainda precisa se definir. Essa estratégia de quebrar a imagem da agência como oficial é um bom começo, mas acho que continuamos sem definição do tipo diferencial de jornalismo que a EBC faz. A Agência vai investir no jornalismo investigativo ou factual? Vai fazer a mesma pauta dos veículos comerciais? Com que identidade o jornalismo da EBC deve estar colocado no mercado? Esse é um debate constante, mas precisa ser feito”, cobrou.

 

“Gostei muito da ideia de multiplicar os correspondentes. Há experiências internacionais de veículos criarem sistemas amplos de correspondentes não profissionais, que tivessem a confiança de sua comunidade, para reportar acontecimentos ao redor do mundo. Eu penso, por exemplo, nas nossas faculdades de comunicação, sindicatos, nações indígenas... A comunicação pública deve compensar a falta de recursos técnicos com ousadia e inovação”, sugeriu Daniel Aarão, conselheiro.

 

Pesquisa sobre Rádios EBC

 

Na pauta da plenária estava, ainda, a apreciação de duas pesquisas sobre a programação da TV Brasil e das Rádios EBC. As pesquisas são resultado de termos de cooperação firmados entre a Ouvidoria da empresa e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade de Brasília. Apresentaram o relatório, porém, apenas os professores da UnB, Fernando Paulino e Luiz Martins (para ter acesso à apresentação em slides feita ao Conselho, clique aqui). A pesquisa da UFRGS não pode ser apresentada devido à ausência dos pesquisadores e deverá ser remarcada para as próximas reuniões.

 

Segundo Fernando Paulino, o objetivo da pesquisa, realizada entre dezembro de 2013 e fevereiro de 2015, era fazer uma reflexão acadêmica com relação às funções e atribuições de um Sistema Público de Radiodifusão. A metodologia foi desenvolvida em parceria com a Ouvidoria e levou em consideração aspectos como a pluralidade de fontes, a amplitude ou limitação da informação de acordo com o interesse público, adequação da linguagem, adequação estética aos padrões propostos pela EBC, entre outros.

 

Como resultado, o grupo concluiu que a maior parte da informação jornalística veiculada nas emissoras é meramente informativa e não apresenta o contexto dos fatos, além de usar majoritariamente fontes governamentais, tendo o próprio enfoque das matérias um viés voltado à divulgações do Governo Federal.

 

No que se refere à programação musical, os pesquisadores entenderam que apesar do alto índice de veiculação de artistas brasileiros (86% do total) é recomendado a diversificação de nomes e estilos musicais, especialmente de novos talentos da Música Popular Brasileira.

 

O conselheiro e maestro Wagner Tiso concordou com a indicação: “não vi ninguém com menos de 70 anos na programação. Acho que devemos programar gente mais jovem, até para atrair o público jovem para ouvir os clássicos”, disse. Para João Jorge, conselheiro e presidente do Olodum, o quadro apresentado mostra uma rádio que precisa de atualizações. “Tem cor essa programação, tem origem étnica. É uma reprodução das antigas rádios educadoras: uma rádio para um grupo restrito, que impõe a interpretação do que é qualidade”, acrescentou.

 

Daniel Aarão sugeriu que a pesquisa da UnB fosse debatida com os funcionários das Rádios EBC e que fosse produzido um relatório de soluções para ser encaminhado ao Conselho. “Tom Jobim e Vinícius é música de classe média do Sudeste, o Brasil é mais que isso. Temos que trazer mais jovens, equilibrar homens e mulheres, trazer as regiões do país e se preocupar muito com esse oficialismo”.

 

Ana Veloso, conselheira, pediu, ainda, que a pesquisa fosse ampliada para as demais emissoras de rádio da EBC e que a empresa passe a explorar mais os formatos radiofônicos que estão em extinção. “Outra coisa essencial, levantada pela pesquisa, é que a EBC disponibilize orçamento para a realização de pesquisas de estudos de recepção, para entendermos melhor o que o público quer ouvir”, cobrou.

 

Sobre a diversidade das músicas exibidas, Taís Ladeira, gerente das rádios EBC de Brasília, ponderou que a planilha de programação disponibilizada no site das emissoras, sob a qual a pesquisa se debruçou, não continha a grade completa que foi ao ar no período, o que pode ter alterado o resultado da análise.

 

Américo Martins, diretor-geral, comprometeu-se a realizar uma discussão mais ampla do relatório com as equipes da casa e analisar a proposta de rejuvenescer as rádios e criar uma rádio 24h de notícias.

 

Nota à Presidência da República

 

Os conselheiros aprovaram durante a 55ª Reunião Ordinária, nota pública em defesa da comunicação pública e do fortalecimento do colegiado (leia o texto na íntegra aqui). Após um ano da eleição dos nomes, provenientes de consulta pública, que integram as listas tríplices encaminhadas à presidenta Dilma Rousseff, as cinco vagas para renovação do Conselho continuam em aberto.

 

“Por mais demanda que um país como esse tenha, é impossível que não se possa dar resposta para essa consulta. É sim, um descaso com a comunicação pública e isso é uma contradição com o discurso do Governo de que quer fortalecer a comunicação democrática. A ausência dos ministros nesse Conselho não é ocasional, é rotineira. Não é possível que durante um ano inteiro não haja um único momento que eles não possam vir em uma reunião”, protestou João Jorge.

 

Ana Veloso lembrou, também, que em momentos decisórios para o pleno, os representantes do Governo Federal compareceram às reuniões, como no dia da própria votação dos novos conselheiros.

 

Relatório da Ouvidoria

 

Joseti Marques, ouvidora-geral da EBC, fez uma breve apresentação do relatório bimestral de atendimentos ao cidadão durante a Reunião. Pontos recorrentes, como problemas no sinal da TV Brasil, por exemplo, seguem no relatório da Ouvidoria. O documento traz, porém, uma novidade: um anexo de providências, que, segundo a ouvidora, apresenta não só reclamações, mas soluções das diferentes diretorias da casa para os problemas descritos no relatório.

 

“O conteúdo da TV Brasil tem se destacado, mas o sinal é tão ruim que a pessoa tem que estar muito a fim de assistir para ficar. E não é só uma questão de imagem, mas de linguagem também. A forma da apresentação está deixando muito a desejar. Isso é uma coisa que não depende de grandes recursos, mas de uma concepção inovadora”, defendeu o conselheiro Daniel Aarão, referindo-se às reclamações do público.

 

Eliane Gonçalves pontuou que várias questões administrativas, como a compra de materiais, aparecem no relatório como justificativa para a interrupção dos serviços de radiodifusão. “Essas coisas precisam ser resolvidas para que a gente possa se concentrar em ser uma empresa de comunicação, de fato”.

 

TV Digital e Brasil 4D

 

Durante a reunião foi apresentada ao Conselho a atual situação de debates junto ao Grupo de Implantação do Processo de Redistribuição e Digitalização de Canais de TV e RTV, o Gired. O órgão é responsável pela transição do atual sistema analógico de televisão aberta para o sistema de TV Digital. O grupo vai planejar esse processo, sendo a Entidade Administradora da Digitalização, ou EAD, o braço operacional. A EAD contará com um orçamento de R$ 3,6 bilhões, integralmente financiado pelas quatro operadoras móveis vencedoras do leilão de 700 MHz.

 

A Direção da EBC, que tem assento no grupo (sem poder de voto), prestou esclarecimentos sobre a relação das discussões do grupo com o projeto Brasil 4D, coordenado pela empresa. O objetivo da apresentação foi solicitar apoio do Conselho Curador para as negociações da EBC no Gired, que inclui a necessidade de garantir que os codificadores (setup box) permitam a interatividade e a multiprogramação do público em todos os canais abertos da TV Digital.

 

Ao final da apresentação foi aprovada pelo colegiado, por unanimidade, uma moção de apoio neste sentido.

 

Atividades do Conselho

 

O Conselho deu informes sobre sua participação, via membros e Secretaria Executiva, em eventos durante os últimos meses, como o Fórum Social Mundial, Missão Brasileira à Gaza e o 2º Encontro Nacional pela Democratização da Comunicação. “O Conselho da EBC está cumprindo tarefas para além do seu papel porque está colocando em pauta a necessidade da democratização da comunicação e do debate popular no país, então, estamos de parabéns”, falou Rosane Bertotti.

 

Como agenda para os próximos meses, foi aprovada a retomada e ampliação do grupo de trabalho que vai discutir sugestões de alterações do modelo institucional da EBC, que além dos conselheiros Eliane Gonçalves, Evelin Maciel, Rita Freire, Mário Jakobskind, Murilo Ramos e Ana Fleck, contará com a presença de especialistas e acadêmicos. No dia 20 de maio haverá uma reunião conjunta das Câmaras Temáticas do colegiado e o pleno volta a se reunir para sua 56ª Reunião Ordinária em 17 de junho.

 

 

Confira os vídeos com a gravação completa da Reunião aqui.


 

Texto: Priscila Crispi (jornalista da Secretaria Executiva do Conselho Curador).