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Conselho Curador cobra maior protagonismo da EBC na cobertura política do país

  • 21/03/2016 16h20
  • Guilherme Strozi
  • Priscila Crispi

Em reunião realizada durante a última quinta-feira, 17, o Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) cobrou maior protagonismo dos veículos da empresa na cobertura do atual contexto político brasileiro. A partir dos debates, o pleno aprovou uma recomendação para a Diretoria da empresa pedindo que esta avalie, dentro do planejamento estabelecido no Plano de Trabalho da casa para 2016, a possibilidade de aumento do jornalismo na grade da TV Brasil e das Rádios EBC durante o período de manifestações, votações no Congresso e mudanças no Governo Federal.

A presidenta do colegiado, Rita Freire, ressaltou que gostaria de ver refletido no jornalismo da EBC o conhecimento e as análises de pessoas que possuem olhar crítico para o jogo político, com diferentes perspectivas. “Nós precisamos dessas informações de análise pra construir um pensamento crítico sobre o momento. A EBC tinha que dar isso para a sociedade”.

A vice-presidenta do colegiado, Evelin Maciel, relatou as conclusões de uma reunião preparatória das Câmaras Temáticas sobre o tema. Segundo ela, os veículos da EBC deveriam focar na contextualização histórica dos fatos, pois isso não acontece na cobertura política de outras emissoras. Além disso, o jornalismo da EBC deve fazer a defesa da legalidade dos processos democráticos. “Concordamos que, nesse momento, é preciso que cada um se empodere de sua cadeira (na Direção da EBC), estamos em um momento de crise da democracia", afirmou.

“O jornalismo da EBC não consegue ser diferente. Em alguns momentos faz coisas pontuais diferentes, mas ainda não conseguiu construir uma marca de jornalismo público. Nesse contexto, é fundamental ter um jornalismo que consiga colocar informações em tempo hábil e ágil. É preciso pensar rápido e criar formas rápidas de comunicação. Isso significa que o jornalismo não pode estar só no jornal e programas de debate”, cobrou Rosane Bertotti.

O conselheiro Joel Zito concordou com a demanda e pontuou que, em momentos de crise, se abrem oportunidades para a EBC crescer em audiência e fortalecer o projeto de comunicação pública. “Nossa pauta não é de defesa do Governo, mas devemos dar o direito de defesa do Governo e também aos opositores, com equilíbrio, com uma pauta clara. Não somos uma TV segmentada de jornalismo, mas nesse momento, deveria ser repensado momentos jornalísticos durante a programação e não só introduzir a questão em programas de debates”, disse.

Pola Ribeiro, representante do Ministério da Cultura, sugeriu que se criasse um programa de debates ao vivo, por volta de 12h, em caráter de urgência. “A TV aberta, pública, tem um papel fundamental nesse momento, é coisa de responsabilidade social – precisamos dar voz para todo mundo, não precisa selecionar quem vai falar, um debate aberto mesmo. É hora também de acionar a Rede Pública de Comunicação, porque ela está em vários estados, que tem governos diferentes, o que nos traz credibilidade”, propôs.

Joseti Marques, ouvidora-geral da EBC, comentou que os veículos da casa, por vezes, trataram a questão política como uma competição esportiva, “o famoso fla-flu”. A Ouvidora ressaltou, ainda, que segundo sua análise a falta de recursos foi o principal causador de deficiências na cobertura das recentes manifestações no país. “A cobertura, do ponto de vista de reportagem, não houve”, afirmou.

“A EBC tem dinheiro contingenciado, e se a sociedade está precisando, isso precisa ser liberado”, falou Rita Freire. Nesse sentido, o pleno aprovou o envio de um ofício para a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) e outros setores envolvidos a favor da liberação da Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública.

Américo Martins, diretor-presidente da empresa, afirmou que a EBC passou a transmitir mais coberturas ao vivo e ampliou o jornalismo nas grades nos últimos meses, devendo ampliar ainda mais. “Podemos deslocar recursos que temos nesse momento, mas me preocupa não só a cobertura da crise, que é emergencial, mas a sustentabilidade da empresa. Nosso orçamento foi cortado em 20% em relação ao ano passado e também tivemos um contingenciamento de 11 milhões de reais em 2016. Temos trabalhado muito em outras formas de liberar recursos que não necessariamente passe pelo Congresso”, explicou. Américo disse também que tentaria implementar as sugestões do Conselho.

“Não precisamos fazer a mesma cobertura acrobática das outras emissoras, vamos fazer com o que a gente tem, o que a gente tem é uma capacidade de contextualizar. Quando a gente tenta ir pra rua fazer coisas ao vivo ficamos pra muito atrás mesmo, mas existem soluções com pouco dinheiro”, ponderou Pola Ribeiro.

Rita Freire solicitou, por fim, que o Comitê Editorial de Jornalismo da empresa fosse convocado em caráter de urgência para acompanhar a produção de notícias, orientando os repórteres de todos os veículos, sendo um espaço de discussão e estabelecendo um direcionamento editorial claro.

Consulta Pública para escolha de novos (as) conselheiros (as)

O Conselho Curador aprovou também nesta Reunião Extraordinária de Março os critérios que vão reger a próxima consulta pública para escolha de novos(as) conselheiros e conselheiras. O edital será redigido pelo grupo de trabalho (GT) que está conduzindo esse processo dentro do colegiado e será deliberado em sua próxima reunião ordinária, dia 19 de abril.

A consulta visa preencher cinco vagas que ficam em aberto com o fim dos mandatos de Cláudio Lembo, Heloisa Starling, Ima Vieira, Paulo Derengoski e Wagner Tiso. Os parâmetros para o processo foram construídos levando em consideração o histórico de outras consultas públicas e sugestões vindas de uma consulta e uma audiência pública sobre o tema.

Rosane Bertotti, relatora do GT da consulta pública, explicou que o grupo procurou sistematizar as principais demandas da sociedade para o processo, que seriam o respeito à quantidade de indicações por entidades; a definição, já em edital, dos critérios que serão utilizados pelo Conselho para seleção; e a não interferência de conselheiros vindos do Governo e Parlamento no processo de escolha de representantes da sociedade civil.

A partir disso, foram aprovados os seguintes critérios, para preenchimento das 15 vagas da sociedade civil: paridade de gênero, sendo a vaga ímpar destinada a uma mulher; 40% das cadeiras para negros e negras e indígenas; vagas para jovens de até 29 anos; e prioridade para candidatos que venham de regiões do país com poucos representantes no pleno (a garantia de pelo menos um representante de cada região é definida por lei). Além disso, o edital vai selecionar os seguintes perfis: pessoa ligada a temas da infância e adolescência; pessoa ligada à cultura e universo artístico; pessoa ligada à causa LGBT; pessoa ligada ao campo empresarial; pessoa ligada a questões ambientais ou do campo.

Cada um dos critérios e perfis aprovados comporão duas minutas de edital, que serão colocadas em votação interna por e-mail para escolha de um único documento que será levado ao pleno. Uma versão traz a constituição de um colégio eleitoral de entidades, selecionadas pelo Conselho, que votaria em candidatos que poderiam se auto indicar. Essa proposta foi apresentada por organizações da sociedade civil durante a audiência pública. A outra minuta segue os moldes dos editais de seleção já realizados pelo Conselho, com as entidades indicando seus candidatos para cada um dos perfis específicos.

Ouvidoria

Durante a atividade, a Ouvidoria da EBC apresentou o relatório de atendimento do último mês e fez análises sobre a cobertura do carnaval pelos veículos da casa e de eventos oficiais. “Um problema recorrente que verificamos nesse período é que, em atos do Governo Federal, temos dificuldade em diferenciar a abordagem adequada a uma emissora pública, de uma divulgação oficial. O oficialismo nos deixa de fora de uma parcela enorme da população, que nos rejeitam quando poderiam aderir a nós”, disse Josete Marques.

“Sobre oficialismo, temos um problema na pauta, porque o que acontece é distribuição de agendas oficiais. No Rio de Janeiro, por exemplo, se tem qualquer agenda com ministro, um repórter é enviado”, afirmou Akemi Nitahara, conselheira e empregada do quadro.

Venício Lima, conselheiro, lamentou o que ele chamou de “síndrome do oficialismo” e cobrou a empresa respostas para problemas na programação que nunca se resolvem, apesar de figurarem sempre nos relatórios do órgão.

“Nosso setor de monitoramento cobra as respostas, todos na empresa recebem a Ouvidoria bem, mas não há retorno sobre resolução dos problemas, e não é nosso papel cobrar soluções, e sim, apontá-las e trazê-las ao Conselho para que esse possa tomar decisões, se achar que deve”, defendeu Joseti. Nesse sentido, Rita Freire definiu que o grupo de acompanhamento do Conselho para o Plano de Trabalho da EBC acompanhará, em suas reuniões mensais com a empresa, as demandas do órgão.

Cobrado pelo Conselho sobre a produção dos programas da Ouvidoria no rádio e na TV, previstos em Lei, Américo Martins afirmou que sua reestreia depende da disponibilização de equipamentos e uma equipe de produção e que já solicitou liberação para o setor responsável.

Novos programas

Ainda durante a reunião, os conselheiros repercutiram o lançamento de um novo programa de debates da casa, o Palavras Cruzadas. “Acredito que esse programa precisa ser sempre ao vivo, diferente de como foi ao ar dessa primeira vez, e que não pode ficar na mesmice de chamar só pessoas mais velhas pra falar de política porque temos muitos jovens, coletivos e movimentos pensando política e inovação por aí”, cobrou Enderson Araújo, conselheiro.

Ana Fleck ponderou que o formato do primeiro programa não se configurava como de debates, mas sim de entrevistas. Venício Lima concordou com a colega, pontuando que muitos entrevistadores, além de deixarem o programa longo, atrapalhavam o aprofundamento dos temas pelos convidados.

Akemi Nitahara questionou, ainda, a permanência do Campeonato Paulista de Futebol da Série A3 na TV Brasil, que ainda não tem contrato para transmissão embora esteja sendo veiculado. Américo Martins afirmou que o objetivo da Diretoria é trazer outros campeonatos regionais para a grade, a partir desse, e que seu contrato está sendo elaborado.

Rita Freire lembrou o presidente que, em sua última reunião, o colegiado aprovou uma resolução que regula a inclusão de novos programas em veículos da casa e solicitou a elaboração de um plano de exibição para os campeonatos regionais.

A próxima reunião do Conselho Curador foi marcada para o dia 19 de abril, em Brasília.

Confira aqui o vídeo com a gravação na íntegra da reunião.